Saturday 6 November 2010

Carta ao MRSP

Caros membros do Movimento República de São Paulo (MRSP)

Dirijo-me a vocês aflitamente em meio a um turbilhão de dúvidas que me assolam desde que escutei seus "nobres" planos de iniciarem a luta pela separação do Estado de São Paulo (ou seria apenas da cidade?).

Como brasileira (oops, paulista) que mora no exterior e portanto bastante conhecedora de burocracias migratórias, gostaria de começar a definir meu status e de minha família desde já, nesse momento que caminhamos rumo a República Paulista.

Antes de mais nada, peço clareza quanto a definição do que constitui um paulista. Sou uma ávida leitora de livros de genética e fã número um de Mendel e Darwin, mas acredito que devo ter perdido a aula onde a biologia do gene "paulista" foi estudada. Que lástima...Porque estou numa dúvida cruel se sou paulista ou não. E o motivo é simples: minha mae é mineira e meu pai capixaba, entretanto eu nasci no interior de São Paulo. Usando o novo critério pós-eleitoral tão em voga no Brasil que só estado "nordestino" é que vota na Dilma Rousseff, confesso que estou desesperada caro MRSP. Seria eu nordestina? Teria o gene "p" me falhado completamente? Ou será que os 24 anos que morei nesse estado tão "maravilhoso" foram suficientes para uma mutaçãozinha genética me garantir um lugar definitivo na elite biológica paulista? Conto com a benevolência de vocês MRSP, para que me considerem paulista jus sanguinis. Se acharem que não seja apropriado, tenham mais piedade ainda e utilizem o critério do jus solis. Assim minha família poderá continuar morando em São Paulo, sem que sejam importunados pela chata burocracia de pedir visto de residência permanente.

As questões geopolíticas e econômicas com os países vizinhos (Brasil, República do Sul) também tem me tirado sono, querido MRSP. Como cidadãos da República Paulista, faríamos parte do Mercosul? Precisaríamos de visto para ir ao Brasil ou ir passar férias no Nordeste? A via Dutra ficaria pertencendo ao Rio ou a São Paulo? Precisaremos de pagar taxa de alfândega para comprar pinga em Paraty ou bordados e doces no sul de Minas? Outra dúvida. E a moeda do país? Seria necessário criar uma nova? Ou poderíamos nos apossar do Real e forçar o Brasil a procurar uma outra moeda pra eles? Afinal de contas, FHC foi o pai do Real né, então nada mais justo do que a gente ficar com ele (o Real, não o FHC), não é mesmo?


Ah...pensei outra coisa caro MRSP, e o hino de São Paulo? Seria algo meio Adoniram Barbosa ou vocês consideram samba coisa chinfrim de carioca? Se for assim sugiro uma adaptação da versão “antiguinha” do hino alemão que diga algo mais ou menos assim: "São Paulo, São Paulo Über Alles" (traduzindo-se: São Paulo, São Paulo acima de tudo). Afinal de contas, alemão é europeu e europeu é chique né MRSP? Devemos copiar tudo deles. Por que não copiar também a ideia alemã nazista (quero dizer, antiguinha) de ter uma lista de obras proibidas para evitar a contaminação do sangue puro da nova nação paulista? Minhas sugestões de autores a serem proibidos: Jorge Amado, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e outros escritores de "segunda classe" brasileiros que não entendem nada de literatura e são apenas subversivos. E não se restrinjam a leitura apenas não, MRSP...Manifestações culturais "contaminadas" de outros estados (oops, países...nossa, vou demorar a me acostumar) deveriam ser proibidas também, ou não? Como nação rica (que terá o direito de ficar com toooodo o seu PIB) seus cidadãos poderão comer todo dia no Fasano's e ir a Ópera no Teatro Municipal, então rapadura e axé music pra que, né? Nordeste mesmo, só pros nossos mauricinhos poderem vomitar caipirinha nas praias de Porto Seguro no Carnaval, concordam?

São Paulo uma nação...Nossa, quem diria hein MRSP que veríamos esse dia? Não vejo a hora de ver as embaixadas paulistas aflorando no exterior, a bandeira bandeirante (haha, olha o trocadilho aí) voando em seu mastro e a foto de Presidente Serra pendurada nas paredes dos consulados convenientemente com um balde embaixo (sabe como e né, a emoção às vezes revira o estômago). Mal posso conter meu excitamento ao imaginar as bonitas paradas pelo centro da Avenida Paulista, com gente bonita e inteligente lembrando o passado lindo de nosso Estado (ah, de novo? país, quero dizer país). Membros importantíssimos da base de governo do Presidente Serra, como a Igreja Católica, grupos Pró-Vida e o Partido Verde, todos no palanque assistindo a uma verdadeira demostração de ordem e poder. Sem falar nos convidados internacionais... Berlusconi, Sarkozy, George Bush Jr., Margaret Thatcher...Uau, me belisca que parece um pesadelo (oops, sonho, sonho, desculpe).

Como vocês podem ver MRSP, muitas são as minhas perguntas e dúvidas. Mas tenho certeza que vocês como movimento sério formado por pessoas cultíssimas e diplomadas nas melhores universidades paulistas (obviamente excluindo-se a USP e UNICAMP), já têm resposta para todas essas questões.

Sendo assim, aguardo-as ansiosamente.