Friday 10 September 2010

Livro do Mês: "Immigrants, your country needs them" (Imigrantes, o seu país precisa deles)

Começo aqui uma “projeto” que tentarei executar com bastante disciplina. Todo mês revisarei um livro interessante que li e compartilharei com vocês minhas opiniões sobre ele. Antes de mais nada quero dizer que não tenho formação em Letras ou Literatura, e minha "autoridade" de criticar livros é totalmente não oficial. Como digo em meu perfil, este blog é simplesmente um "grito", onde discuto sobre coisas que considero legais e importantes. E livros certamente fazem parte da lista...

Essa semana comentarei sobre um livro maravilhoso que li recentemente, entitulado: Immigrants, your country needs them (tradução: Imigrantes, o seu país precisa deles), escrito por Philippe Legrain. Mencionei Legrain no me post anterior sobre patriotismo, mas hoje quero dedicar mais do que umas meras linhas a ele, um economista, jornalista e escritor freelance que passei a admirar muito nos últimos meses. Para quem quiser saber mais sobre ele e seus livros, indico o seu blog (mencionado aí embaixo na minha lista de favoritos). Vale a pena conferir (principalmente os vídeos e entrevistas).

A temática de imigração é importantíssima para mim, não somente pelo fato de eu ser uma imigrante faz quase 15 anos, mas principalmente porque o assunto é sempre permeado de controvérsia, racismo, politicagem e injustiça. E isso é extremamente irritante na minha opinião. Ontem mesmo estava no aeroporto de Heathrow esperando numa fila colossal para passar pela imigração (nem sendo cidadã permanente aqui e pagando 40% de imposto eles facilitam a vida da gente), quando observei uma placa do UK Border Agency (a Policia Federal daqui) bradando em altas letras: UK Border Agency - protecting Britain's border and controlling Immigration (tradução: Controle de fronteiras do Reino Unido – protegendo as fronteiras e controlando a imigração). Esta última parte da frase (controlling immigration) havia sido claramente adicionada depois, pois estava em letras diferentes...Talvez por causa das eleições que aconteceram aqui faz uns meses, eu pensei...Toda vez que a população se sente ameaçada no meio de uma crise econômica, os políticos a tranquilizam descendo o pau nos imigrantes. A fila onde esperava estava hiperlotada, cheia de cidadãos não europeus, a maioria africanos, cujos vôos chegaram por volta do mesmo horário. Obviamente, imigrante tem que ser tratado como lixo, então não importa que os bebês das mães africanas estivessem chorando de fome e os idosos morrendo de cansaço depois de horas e horas de vôo. Haviam 3 oficiais checando os passaportes de quase 500 pessoas, e depois de quase 2 horas na fila (juro!!!), eu sai fuzilando de raiva e pensando: pois é, na hora de invadir e colonizar o país deles tudo bem, mas na hora que eles vem no de vocês, aí precisa avacalhar...

Anyway, revoltas à parte, vamos ao livro. Legrain manda ver com uma frase que adoro: O argumento para imigração é econômico e não político!!!Pow, Soc, Tum, Pah!!! Toma na cara, seus xenófobos. Imigração faz sentido economicamente sim e ele prova isso. As maiores economias dos últimos tempo progrediram imensamente por causa de imigração. Veja os Estados Unidos por exemplo, com o Silicon Valley na Califórnia sendo um centro de inovação e geração de empregos. Os indianos, taiwaneses, etc são vitais para o sucesso do Valley, ja que estabelecem ligação com seus países de origem (com as vantagens de saberem a língua, os costumes e as práticas de negócios regionais) aumentando assim o comércio, criação de novas empresas e consequentemente a geração de empregos pros dois lados. Ate países mega xenófobos como Austrália não tem como negar os efeitos positivos da imigração em seu crescimento econômico. Imigração gera empregos e ponto final. Afinal de contas, cada imigrante que executa um trabalho que os nativos não querem fazer está possibilitando que esse mesmo nativo entre para o mercado de trabalho mais especializado, gerando assim riquezas para o seu país.

Democracias sociais como a Suécia e o Canadá estão aí para provar que imigrantes não oneram o sistema  social como muitos gostam de dizer. Afinal de contas, nem se os imigrantes estivessem a fim de abusar o sistema (o que piamente acredito que não estão), as leis de imigração não o permitem. Então essa coisa de que imigrante só quer viver de benefícios é pura balela, já que os legalizados não têm direito a um monte de coisas que os nativos têm (tipo seguro desemprego, ajuda de moradia, etc) nos primeiros anos de existência no país. E os ilegais então nem podem aparecer no radar para ir a um simples hospital, quanto mais pedir benefícios ao governo. Quanto aos asilados políticos, os argumentos também são carregados de preconceito, mas o que ninguém divulga é que o número de gente pedindo asilo é muito menor do que se acredita, e continua declinando em vários países. O que as pessoas confundem é que os imigrantes que elas juram ser “abusadores do sistemas”, são na verdade segunda, terceira geração nascidos no mesmo país que elas, portanto cidadãos tão legítimos quanto os que os criticam. Eles, por causa de sua cor de pele “diferente” se sobressaem, mas o que todo mundo esquece é que nativos brancos também pedem benefícios. Se as economias estão estagnadas, e as pessoas não tem como achar emprego às vezes, vão fazer o que? Passar fome? Não é pra isso que existe social welfare? Obviamente a problemática da falta integração dos descendentes de imigrantes na sociedade é complicada, já que muitos governos falharam miseravelmente em permitir que esses filhos e netos se sintam “em casa”. Um filho de turco que nasceu na Alemanha sempre será um turco aos olhos dos alemães, não importa se o cara nunca foi a Turquia ou só fala alemão. Mas isso aí e assunto pra um outro post...

Voltemos ao livro...Legrain é totalmente a favor da abertura de fronteiras, para os imigrantes capacitados (os chamados skilled) e os menos capacitados (non-skilled). E or argumento que usa é bem simples: como e que os governos sabem quais áreas da economia estão precisando de gente capacitada? A economia e algo dinâmica que muda constantemente e rapidamente. Se tem governo que não é capaz de saber nem quantos imigrantes existem no país (como é o caso do Reino Unido), como saberão quais setores da economia estão mais necessitados de mão de obra em um determinado momento? Além disso você nunca pode estimar 100% o poder empreendedor de uma pessoa quando ela está em um país que lhe proporcione condições de liberar o seu potencial. Se os governos ricos permitissem só a entrada de imigrantes skilled (com a exigência que se tenha no mínimo mestrado em alguns países), gente tipo Bill Gates ou Sir Stelios Iannou (dono da Easyjet, uma mega empresa de aviação britânica) não se qualificariam hoje para viver em seus próprios países, já que não estudaram em universidade e portando não seriam considerados como “skilled”. Bill Gates como non-skilled ? Parece piada, ou?

A ironia das políticas migratórias nojentas dos países ricos é que quanto mais eles dificultam, mais a galera quer ficar para sempre. Como Legrain diz, imigração não precisaria ser permanente, já que a maioria das pessoas que emigram não o fazem com a intenção de perder suas raízes, mas o fazem simplesmente por motivos econômicos. Se os mexicanos nos Estados Unidos, os paquistaneses na Inglaterra ou os turcos na Alemanha soubessem que poderiam voltar aos países ricos quando quisessem, eles com certeza não viriam de mala e cuia com suas famílias. Eles prefeririam continuar morando no México, Paquistão ou Turquia e vir trabalhar nos países ricos por um período limitado, ganhando sua graninha, e contribuindo para os dois lados.

Os países ricos têm que acordar...O futuro é chines, indiano, brasileiro, tailandês, vietnamita, filipino...É daí que sairá a maioria dos graduados do futuro. É dai que sairá a maioria da mão de obra que os países ricos tanto precisam. Nenhum país vai conseguir manter o ritmo de inovação e tecnologia necessários para competir em um mundo globalizado, somente com uma mão de obra uniforme, que não fala línguas e pensa do mesmo jeito.

E acho que essa discussão acontecerá mais rápido do que se pensa no Brasil também. À medida que crescemos e nos fortalecemos economicamente, cidadãos de outros países latino-americanos e africanos começarão a tentar sua vida em terras canarinhas. O Brasil pode passar rapidamente da condição de país de emigração a um país de imigração, e sinceramente espero que a gente esteja preparado com políticas eficientes para não cair nos mesmos erros e argumentos xenófobos dos países do primeiro mundo. Quem sabe o próximo livro de Legrain não será sobre a gente? :-)

3 comments:

  1. Olá, tudo bem? Cheguei no seu blog por acaso. De vez em quando eu leio os artigos que Legrain publica no Guardian, depois vou ver se encontro esse livro - também me interesso pelo assunto. Realmente é um desconforto ficar 2h em qualquer fila, inclusive já peguei fila mais longa que isso para entrar em Stansted e sair de Guarulhos - e foi bem cansativo. Mas entrando no Reino Unido não vejo os imigrantes sendo tratados de forma diferenciada. Se eu estou escrevendo bobagem por favor me corrija, mas as mamães africanas não estavam na mesma fila que as mamães turistas norte-americanas e japonesas? Até onde eu sei é assim que funciona: uma única fila "non-eu" para todas as pessoas com passaporte de fora da União Européia, sejam elas turistas, residentes no UK ou possíveis imigrantes. Também sou contribuinte no UK e vejo falhas no país, mas não diria que nós imigrantes estamos sendo tratados como lixo (salvo na linguagem agressiva de tablóides, mas evito ler esse tipo de publicação). Um abraço!

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  2. Oi Dri...Obrigada pelo comentario...Nao acho que tenha escrito bobagem nao, e toda opiniao e bem vinda aqui...So que penso um pouco diferente a respeito da situacao...Obviamente o fato de todos fazerem parte da mesma fila e otimo...Mas nao conheco nenhum aeroporto onde exista fila para EU, primeiro e terceiro mundo, entao ate ai o Reino Unido nao esta fazendo nada de especial. Nao defini o tratamento lixo no aeroporto somente pelas filas onde a galera esta, mas pelo fato de que obviamente os caras sabem quais sao os horarios onde os voos chegariam e nao fizeram nada para amenizar a situacao...Com 500 pessoas, por que 3 immigration officers para ver o passaporte de todo mundo? Era 09 horas da manha, horario de trabalho...As maes imploravam para poder passar antes, porque as criancas estavam chorando de fome...Os nao africanos, tipo, os americanos, canadenses, etc que estavam na fila, pediam aos funcionarios da BAA para deixarem passar os idosos na frente...E recebiam um imenso nao de resposta...Se isso nao e tratamento lixo, entao eu nao sei o que e.
    Acho que tem muito imigrante sendo mal tratado sim...E nao e so pela linguagem trash dos tabloides nao...Mas na falta de oportunidades iguais, no constante "harrassment" pelos politicos que vivem implementando medidas xenofobas que dificultam a vida de todo mundo aqui (desde que cheguei a Inglaterra, ja mudaram as leis de imigracao 3 vezes, e para pior), pela dificuldade sim de sair e entrar na Inglaterra, mesmo sendo um cidadao do pais (um artigo muito interessante no Independent falou sobre o problema que british muslims, descendentes de imigrantes, tem em viajar e se mover aqui, ja que sao "suspeitos terroristas")...enfim...Nao acho que a ocisa seja facil nao...
    Desculpe pela falta de acentos e cedilhas, mas meu teclado e uma porcaria as vezes...
    Obrigada por ter entrado no blog...Voce tem um blog tambem pra eu dar uma olhada? Abracos, Fernanda

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  3. Que deprimente saber que ficam arrebanhando africanos para maltratá-los, e não permitam que as pessoas deixem passar quem quiserem na sua frente na fila, não imaginei que isso acontecesse. Na única vez que voei da África para o UK não observei nada de diferente, e quando peguei 3h de fila no Stansted estava voando de dentro da UE, então sempre me pareceu que tratassem todos da mesma maneira. Talvez eu tenha uma visão muito ingênua da coisa, pelas experiências positivas ou neutras na minha volta. Outros casos que vc comenta entendo como racismo mesmo. Estou sem blog no momento. Abraço.

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