Thursday 9 September 2010

Sou cidadã do mundo...Com muito orgulho e com muito amor!!!

Acabei de voltar de uma viagem curta mas maravilhosa a Nova Iorque. Esta foi a minha primeira visita à Big Apple, e como minha estada coincidiu com as comemorações do fim de semana brasileiro na cidade, não posso deixar de registrar minhas impressões e pensamentos em um post.


O número de brasileiros na cidade de NY e incrível. Moro em Londres e sempre achei que aqui era um “mini-Brasil” com cerca de 150 mil brasileiros espalhados pelos 32 boroughs da cidade (esses números são de 2007). Mas isso não chega nem aos pés da concentração brazuca que vi em NY. Estima-se que mais de 300.000 brasileiros vivem na região metropolitana da cidade, e como acredito que esses números incluam só os brasileiros legalizados, o número verdadeiro deve ser muito maior. Tem até uma rua chamada Little Brazil em Manhattan, e foi lá que se concentrou o Brazilian Day, um festival de celebração à cultura brasileira, incluindo shows de artistas famosos, muita comida, guaraná e dança.


Um dos momentos mais marcantes para mim foi ter visto quase 15.000 pessoas assistindo ao show de Ivete Sangalo no Madison Square Garden. Não sou fã dela, não gosto de axé music e fui realmente para acompanhar uma amiga que gosta da sua música e carinhosamente tinha reservado um ingresso para mim. Mas não tenho vergonha nenhuma de dizer que o show foi contagiante e que a energia no estádio era algo quase palpável. Mas durante o show, vendo tantos brasileiros matando saudades de sua cultura no exterior, um grande sentimento de culpa tomou conta de mim. Sim, porque me senti uma “antipatriota” por não sentir falta da minha cultura como muitos outros brasileiros sentem. Depois de quase 15 anos morando em diversos países não sinto falta de feijão, MPB ou até mesmo guaraná...Fico feliz quando encontro essas coisas, mas realmente nunca busquei cultura brasileira nos lugares onde morei. Sera que isso é errado, eu pensava durante o show? Por que todo mundo grita e canta “Eu sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor” e eu não o faço? Será que sou uma traidora da pátria e não tenho orgulho do meu país?


Saí do Brasil pela primeira vez em 1996 e depois em 1998. Apesar de ser considerada como uma economic migrant aqui na Europa, minhas intenções migratórias eram bem mais simples no começo. Queria viajar, aprender línguas, conhecer países e pessoas e ter aventuras. Acabei estudando, trabalhando e casando...E acabei ficando...Obviamente depois de tanto tempo, realmente ficou mais complicado voltar. Mas depois de meditar bastante sobre o assunto, concluí que não, não sou uma traidora da pátria e amo muito o Brasil. Não pertenço a classe dos brazucas que só descem o pau no país e acham que tudo do exterior é melhor. Eu, por exemplo, acho que o brasileiro trabalha mais que o europeu (por salários infinitamente menores), é mais criativo, politizado e menos xenófobo (obviamente o verdadeiro teste será quando o número de imigrantes latino-americanos e africanos no país aumentar devido ao nosso desenvolvimento econômico...aí quero ver se a galera que ama estrangeiro europeu e americano vai gostar destes imigrantes “moreninhos” também...mas ate lá, concedo o benefício da dúvida).

O que eu não sou é patriota cega. Daquelas que acham que a só a nossa natureza é bonita, que não existem praias iguais as nossas (as ilhas Maldivas que o digam), música igual a nossa, que as nossas mulheres são as mais bonitas (engraçado, ninguém fala dos homens...ah é, esqueci...parece que é só mulher que é objeto) e que a nossa comida é a melhor do mundo. O que eu detesto é aquele patriotismo que romantiza e vangloria o jeitinho brasileiro como uma qualidade, ou o classismo que compara o Brasil a um paraíso porque lá pode-se ter empregada e motorista. Ou pior ainda, como escuto milhões de vezes por essas bandas de cá, um patriotismo que exalta o país como um lugar sem racismo...Não, desse Brasil não sinto falta e jamais sentirei...

Li um livro excelente do economista e escritor Philippe Legrain, onde ele debate a questão da imigração e da dificuldade dos países do primeiro mundo em verem seus benefícios. Um dos capítulos mais marcantes é o de quando Legrain toca na questão da diversidade e multiculturalismo e comenta que vivemos em um mundo globalizado, quase sem fronteiras, e com isso caem também as barreiras que definem o indivíduo como de “um lugar só”. Uma pessoa tem que ser definida por mais do que simplesmente o país onde ela nasceu. A religião, as línguas, as experiências pessoais, tudo faz parte do caldeirão que nos define. E é assim que me sinto. Depois de tanto tempo no exterior, a minha meta é manter o melhor da minha cultura original e absorver e assimilar o melhor de cada cultura que vivencio, seja através dos amigos que faço, ou dos países onde moro ou visito.

Acho que posso sim cantar a musiquinha do orgulho, só que a minha versão seria um pouquinho diferente: “eu, sou brasileira de coração, alemã na mente, austríaca no amor a natureza, inglesa no humor, americana no otimismo, africana na pele e norueguesa na consciência social...Com muito orgulho, e com muito amor”.

3 comments:

  1. Oi Fernanda! Adorei o texto! Mas, será que os brasileiros são mesmo mais "politizados" que os europeus? Aqui eu tenho a impressão que falar de política é sempre inconveniente. As pessoas não gostam de discutir seus votos, aliás aqui discutir é um tabu. Parece que temos que agir como se não houvesse conflitos, diferenças, racismo, classes, enfim... Mas, eu também amo o meu país e quero levar aonde for o seu melhor.

    Beijos!

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  2. Oi Carolina...Valeu pelo comentário. Não havia pensado por esse ângulo e acho que estava mesmo usando muitos de meus amigos como referência, que são na verdade bastante politizados. Às vezes tenho a impressão que aqui na Inglaterra a galera não é muito chegada em discussões sobre política, e não tem um ângulo crítico a respeito do seu passado colonizador, por exemplo. Meio que vivem nos tempos do império britânico ainda :-). Mas concordo com você que muitos brasileiros também não são chegados em política, não discutem e não lidam bem com controvérsias...Bom, espero que ajudemos essa situação com nossos blogs :-)
    Beijos, Fernanda

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  3. Fer, bem legal o texto! Só faço a seguinte reflexão: por que é que 'cidadã do mundo' significa viver bem nos costumes europeus? Será que se você vivesse na Coréia do Sul ia ficar tão tranquila longe dos costumes ocidentais?

    Pra mim foi infinitamente mais fácil ficar um mês na França do que um mês na Coréia do Sul.

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